Ela surgiu em meio as
contradições que o mundo impõe, veio de mansinho como quem quer
tudo mas não podia dizer nada. Estava cansada de tanto correr pela contra-mão da vida e se trazia um passado triste, já não tinha
importância pois queria mesmo era ser notada para mostrar ao mundo
tudo o que se transformara.
Não queria mais a
indiferença dos insensíveis pois estava convicta das suas escolhas,
mesmo sabendo que nem todos concordariam com seus atos. Tinha em si a
confusão em seus desejos e apesar de assumir seus erros o que mais
almejava era seguir em busca de amores, de novas paixões, de
sentimentos que afloravam e que precisavam fluir em amplidões cada
vez mais tempestivas. Como uma aprendiz se lançou nas sendas dos
conhecimentos profanos, das visões seculares do mundo e das
vivências de si mesmo, desprezando as impressões do sagrado que
perfaziam sua existência até aquele instante. Era forte em suas
decisões, corria os riscos que sabia encontrar com a certeza de uma
alma ferida que gemia de dor e que sangrava de tanto insistir em algo
que lhe determinava.
Apesar de tantas
adversidades, tinha um sorriso que não era encontrado por aí e uma
alegria que contagiava até mesmo os mais pessimistas. Sabia como
conquistar aquilo que mais lhe ansiava, se sentindo elevada e a mais
bela de todas as mulheres. E beleza era o que não lhe faltava,
talvez esta fosse a principal de suas qualidades(ou armas), pois
tratava-se de uma beleza ímpar, de uma sublimidade que se esvarava
nas múltiplas sutilezas dos seus gestos. Um paraíso repousante do
olhar solitário e distante que da neblina de um coração frio fez
se em instantes o sol que queima e derrete a saudade. Um misto de
insanidade e razão na voz que entoa como que a descortinar uma nudez
em forma de palavras carregadas de sussurros e gemidos mas que conduz
aos enigmas que precisam ser decifrados para que nós meros seres
humanos não sejamos devorados.
Na limpidez do seu
corpo se fez o reflexo do que é perfeito e como raios que cintilam
para todas as direções, o pulsar do seu prazer é algo que é mero
resplandecer, que se espalha num perfume que de tão próximo deixa
tudo acontecer. Sua pele é um labirinto para que aqueles que
desconhecem suas sutilezas se percam embriagados, pelos desejos de
tudo o que não pôde ser consumado.
Ela paralisa com seus
movimentos, sensualiza com seus gestos, diviniza o que é secular,
traz vida ao que precisa de um simples amar... E por saber ser o que
é, mesmo não querendo em nada mudar sempre mostra um mistério no
seu jeito de se dar. Desfaz o silêncio quando fala sobre o que quer
e se abre quando está incomodada pois sente a segurança de ser
mulher.
E como eu nem sei o que
significa isto que por aí denominam AMOR, pois já sofri por querer
tê-lo, fiquei paralisado em perceber o que agora ela me transformou
e por isso me pergunto quem eu sou, para mim e para ela, pois não
quero mudar, com o medo de um dia perder essa forma de amar.
Sei que estou preso,
encarcerado e imobilizado com o anseio de me esconder desse mundo tão
complicado, dos que não acreditam em quem está apaixonado e como um
adolescente que descobre pela primeira vez os meandros de se entregar
ao ser amado, fico aqui extasiado, aguardando enfim tê-la em meus
braços e viver a emoção de um sentimento que há muito em mim está
guardado.