Eis
que era chegada a tão inesperada hora, o que se sabia é que
inevitavelmente este instante não tardaria, pois a sucessão de
momentos diversos o arrastaria para isso. Viveu em meio a uma
proteção tão acertada que se lançar no mundo das contingências
era seu maior temor. Não tinha um mapa, um guia ou alguém que o
conduzisse e o que poderia vislumbrar era a estrada tão longa que
precisaria ser percorrida por um tempo também incerto, à medida em
que ia protelando sua decisão de dar início a sua jornada o seu
nível de angústia só tendia a aumentar. Logo ele que sempre queria
tudo na hora, que estava acostumado a que tudo acontecesse a seu bel
prazer mais egoísta.
Se
despediu de tudo, lançou ao ar seus preceitos e preconceitos e com
aquela decisão que provém de um imediatismo ainda não acertado pôs
o “pé
na estrada”.
Todas as amarras existenciais foram aos poucos sendo deixadas ao
longo do caminho e em substituição a tudo nem conseguiu novos
modelos ou padrões que pudesse se vestir ou o proteger das
intempéries sociais. Odiava tudo o que fosse padrão coletivo e não
queria ser mais uma cópia dos componentes mundanos que eram
produzidos em série apenas para ser vislumbrado ou aceito por nem
sabia quem.
Sentiu
uma liberdade tão emblemática que até se perguntava de onde vinha
tanta euforia, tanta vontade de ser o que agora tinha assumido. Por
um minuto se esqueceu de tudo o que foi e bastou isso para que numa
mudança perceptiva da sua vivência atual se tornasse uma explosão
do que ele nem pôde explicar. Tudo era intenso, multiplicado em
infinitas partes, sentido em seus mais perspicazes delineamentos, era
como se o mundo fosse tudo isso e mais algumas miligramas de prazer.
Por
tanto tempo buscava prazeres que nem sabia de onde provinha e agora
tudo estava sendo lhe oferecido como dádivas imerecidas ou
consequências dos seus atos agora tão modificados, mas na verdade
é que tudo estava valendo o prazer, tudo era sublime e mesmo que ele
não fizesse suas próprias escolhas o mundo estava lhe dando em
vitrines de oportunidades as mais diversificadas oportunidades.
Foi
necessário sair de si para encontrar consigo mesmo, esta é uma
assertiva confirmada em suas mais profundas dimensões e constatada
não através de uma fuga impensada ou decorrente do cometimento de
alguma dolorosa perca. Como se encontrava livre, a decisão de partir
também assim o era e a vontade de retornar se baseava no
condicionamento de se sentir desprendido das amarras sentimentais
advindas das culpas que nem eram de si mas apenas atribuídas por ele
mesmo.
Foi
válido para se conhecer, para se apresentar ao mundo e
principalmente para perceber que tudo o que precisava ele ainda não
tinha encontrado. O sentimento que o dominava era acima de tudo o de
resiliência e sentia que ainda teria muito mais e mais o que
encarar, experimentar e saborear o que chamam de vida e ele
simplesmente estava apto e disposto a seguir. Ainda sentia o peso de
alguns fardos em seus ombros e pressentia que mais cedo ou mais tarde
precisaria se depreender, deixar para trás, não vivenciar mais uma
parte obscura do seu passado.