terça-feira, 30 de setembro de 2014

Projeto Kitesurf Guarda Vidas

REPORTAGEM PUBLICADA NO DN DESTE DOMINGO (28/09

Com vocês e em primeira mão, o Projeto Kitesurf Guarda Vidas.

Kitesurf Guarda Vidas
Há poucos dias estive nas praias do Icaraí e Cumbuco para ver de perto uma iniciativa de algumas pessoas que uniram suas forças por uma nobre causa: salvar vidas. A parceria surgiu quando a 2ª Seção de Salvamento Aquático-Quartel Icaraí, sob o comando do Major Gledson, percebeu que o equipamento de kitesurf poderia muito bem ser utilizado para auxiliar em resgates. O objetivo inicial era apenas treinar os kitesurfistas da região para prestar os primeiros-socorros a vítimas de afogamento, algo parecido com o que o Corpo de Bombeiros há anos já faz com os surfistas através do Projeto Surf-Salva.

Contudo, à medida que o projeto foi tomando corpo, os envolvidos perceberam que a utilização do kitesurf poderia ir muito além do simples monitoramento da faixa litorânea, se configurando como mais um importante equipamento de salvatagem.
“O objetivo inicial era simplesmente, transmitir técnicas de salvamento aquático e primeiros-socorros aos praticantes de kitesurf. Contudo, o que constatamos foi que a utilização do kitesurf pode se transformar na técnica mais rápida para retirar pessoas da água já criada nos últimos tempos”, declarou o Major Gledson.
O surgimento da ideia
Ao lado quartel dos bombeiros do Icaraí fica localizada a Casa dos Ventos, criada e coordenado pelo kitesurfista e advogado Gilberto Gouveia. Várias vezes por semana os soldados e oficiais dos bombeiros viam essa turma armando suas pipas e desaparecendo no horizonte do sol poente e ficavam imaginando como seria importante se aquelas pessoas pudessem ajudar no trabalho de prevenção de afogamentos, afinal de contas, eles costumam percorrer entre 20 e 30 quilômetros, chegando algumas vezes, a velejar por mais de 50 km em um único dia.
“Costumo dizer que morar no Ceará e não praticar kite é como viver no Havaí e não surfar. Eu pratico kitewave downwind, que nada mais é que pegar ondas percorrendo quilômetros ao sabor dos ventos”, explicou Gilberto.
Entre observação, conversas e o nascimento do projeto passaram-se alguns meses até que finalmente, o Major Gledson formatou o curso para a 1ª Turma do Projeto Kitesurf Guarda Vidas. E foi durante a formatação do curso que os envolvidos perceberam que haviam descoberto uma grande ferramenta para o salvamento marinho em regiões com ventos abundantes como o litoral nordestino.
Tempo-resposta

Quando as primeiras simulações práticas começaram a ser feitas um detalhe passou a chamar muito a atenção, sobretudo dos guarda-vidas: o fator tempo-resposta. O fator tempo resposta nada mais é que o tempo entre a visualização da ocorrência até a retirada da vítima de afogamento de dentro d’água para que sejam iniciados os procedimentos de primeiros-socorros.
“Logo na primeira simulação percebemos que o tempo-resposta de uma operação utilizando uma pipa de kitesurf é consideravelmente menor que qualquer outra técnica. Nem mesmo utilizando o jet ski conseguimos ser mais rápidos que um kite. Fizemos a operação repetidas vezes, buscando criar diferentes situações que costumamos nos deparar em nosso trabalho cotidiano e a constatação foi sempre a mesma: em um resgate de afogamento no mar utilizando um kitesurf a vítima é resgatada em pouco mais 1 minuto. Para quem trabalha salvando vidas no mar esse dado é fantástico e muito empolgante”, explicou o Maj. Gledson.
Levando em consideração que o tempo é o fator mais importante para o sucesso de um resgate em casos de afogamento, podendo fazer a diferença entre a vida e a morte, a utilização do kitesurf pode se configurar em uma das ferramentas mais eficazes para esse tipo de procedimento.
Mas o que os participantes aprendem no curso?
Os velejadores passam por um treinamento ministrado pelos guarda-vidas onde recebem instruções de prevenção de riscos em áreas marítimas e aprendem técnicas de resgate em emergências aquáticas. Durante o curso, guarda-vidas e velejadores são treinados a utilizar o kitesurf como ferramenta para o atendimento às vítimas de afogamento com o auxílio ou não de flutuadores. E quanto aos resgates, podem ser feito de duas formas:
1-      Um kitesurfista reboca um guarda-vidas com flutuador e este resgata a vítima segurando-a com um dos braços enquanto agarra-se firmemente ao kitesurfista com a outra mão. Uma vez fora d’água o guarda-vidas faz os procedimentos de primeiros-socorros;
2-      O próprio kitesurfista resgata a vítima tirando-a da água e fazendo, ele mesmo, os primeiros-socorros;
Em nenhuma das duas formas é utilizada prancha e a técnica empregada pelo kitesurfista é conhecida como “body dragging”.
Entretanto, a técnica mais importante que está em fase de testes e desenvolvimento é o treinamento da abordagem da vítima quando o kitesurfista está sozinho, sem o auxílio do guarda-vidas. Pela experiência, sabe-se que uma pessoa se afogando está em estado de pânico e isso pode colocar em risco a vida de qualquer um que tente se aproximar para ajudar. E o que seria um afogamento, facilmente pode se transformar em dois. A literatura e os noticiários estão repletos de casos dessa natureza. Por isso, estão sendo desenvolvidas técnicas especiais de desvencilhamento, para que o kitesurfista não coloque sua vida em risco no momento de um salvamento. Por isso seria tão importante a troca de experiências entre projetos e pessoas que possam estar realizando experiências semelhantes a essa para que a evolução seja mais rápida.
“Gostaríamos muito de conhecer  outros projetos como o nosso. Assim teríamos a oportunidade de trocar experiências e evoluir as técnicas mais rapidamente. Mas, por enquanto, não temos notícia de nenhum grupo que esteja desenvolvendo técnicas específicas para salvamento com kitesurf, nem no Brasil, nem em outros países”, declarou Major Gledson.
SAIBA MAIS
Body Dragging – técnica que consiste em ser arrastado pela pipa na água, procedimento muito comum quando o kitesurfista perde sua prancha e precisa recuperá-la;
Desvencilhamento – É o ato de se desprender, ou se soltar quando agarrado por alguém que está se afogando, por exemplo;
Flutuador – Equipamento de salvatagem que em geral tem formato semelhante a um paralelepípedo e seu uso é muito comum entre guarda-vidas e nadadores de águas abertas;
O Projeto Kitesurf Guarda Vidas é uma parceria entre os instrutores da AKC-Associação de Surf de Caucaia, dos kitesurfistas frequentadores da Casa dos Ventos, Kite House e 2ª Seção de Salvamento Aquático-Caucaia.


Fonte:
http://blogs.diariodonordeste.com.br/manobraradical/kitesurf/projeto-kitesurf-guarda-vidas/

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