terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Efêmero Despertar

Estava mais do que na hora de parar com tudo aquilo que lhe afligia e a vontade de dar um basta em toda aquela tempestade sentimental se misturava a uma enxurrada de prazeres ocultos que insistia quase sempre em querer se mostrar. Acordou mais cedo como era de costume e por um segundo teve raiva em não permanecer adormecido em seus sonhos que depois nem mesmo conseguia lembrar.
Mas a vida estava assim para ele, uma confluência de lembranças e esquecimentos que lhe ajudava a suportar o tédio do cotidiano afim de tragar doses de instantes felizes e por mais que ainda não tenha se acostumado com as mudanças que vinham bruscamente tomando seus últimos dias, estava certo que algo de bom estava por vir.
Saiu de casa como sempre, atrasado e sem comer algo que pudesse quebrar o jejum. Apenas sentia na garganta o gosto forte do conhaque da noite anterior que agora servia como uma marreta na sua cabeça, batendo como que querendo arrebentar. Tomou o ônibus em direção ao trabalho e aos poucos ia visualizando a miséria das casinhas paupérrimas que se misturavam com mansões pomposas e no sinal a disputa entre pedintes e lavadores de pára-brisas que lutavam a todo custo por uma moedinha.
Sentiu-se cada vez mais diminuído e sem entender o que estava fazendo naquele instante, qual seria o seu papel ou o que poderiam fazer por ele??? Era como se todos os seus questionamentos que foram formulados ao longo de toda a sua vida se resumisse apenas ao que ele estava sentindo ali num espaço de tempo tão curto.
Sabia que não teria tanto tempo assim para perder em devaneios e resolveu assumir a sua condição diante das possibilidades que eram dadas naquele instante.

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