Muitas das coisas que hoje sentimos prazer em curtir e se deliciar vão aos poucos se tornando irrelevantes ao ponto de nem percebermos, pois outras vão as substituindo numa velocidade fugaz que quando nos damos conta já estão inseridas em nossa forma de ser. Assim, vamos dando novas formas e contornos ao nosso viver inconstante sem ao menos ter a noção do que virá ou daquilo que nos aguarda. Parece tudo simples e nem sempre precisamos complicar, pelo menos para nós mesmos, afinal o que mais vale é o hoje, que se apresenta como uma dádiva que devemos apreciar, acompanhado ou na solidão, na dor ou na felicidade, enfim, o que mais vale é o presente que nunca acaba pois os momentos vão se concretizando, tomando forma, acontecendo e aos poucos se esvaindo até que se tornem marcas daquilo que designamos de passado. Nesse ínterim seguimos como “viajantes” ou “jogadores” que estão aptos a surpresas, mas sempre cansados da mesmice do cotidiano. Em busca de viver uma vida livre das amarras convencionais e dos compromissos habituais que acabam nos transformando em máquinas ou robôs que agem sem autonomia para fazer o que quer ou para mudar os planos no momento em que achamos adequado. Dentre os mais variados defeitos que carrego, ou os que assim posso enumerar, tenho percebido um que, devagar tem me dado sustentação e aliviado minhas dores, que é o esquecimento, pois quando algo de ruim me acontece ou quando alguém me aborrece e que penso que vou levar aquilo comigo através do ressentimento, percebo que aos poucos a memória vai mandando embora sem a esperança de voltar. De repente passo a encarar o fato como ocasional ou sem a preocupação de remoer em mágoas os ocorridos. Como fui capaz de conseguir isso?
Não sei ao certo pois somente quem carrega dores e cicatrizes do passado é que pode tornar-se especialista em entender o sofrimento do outro.
Um comentário:
Emocionante!
É incrível como muitos animais conseguem amar mais entre eles mesmos, do que nós (humanos) entre nós mesmos.
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