
Especialistas concordam que a bagunça surge, muitas vezes, quando os professores não transmitem o conteúdo de maneira adequada. E que ela torna-se frequente em sala de aula quando o professor não sabe como enfrentá-la a contento. O professor de pedagogia e psicologia da Unibrasil, Emerson Luiz Peres, acredita que muitas vezes os educadores, ao depararem-se com situações de indisciplina, confundem a noção de autoridade com a de autoritarismo. “Isso porquê muitos deles têm dificuldade em se posicionar frente a um novo modelo de relação social, no qual os alunos têm mais conhecimento do que no passado, exigem qualidade no ensino e conhecem mais os seus direitos. Isso acaba fazendo com que os professores ajam de modo autoritário”, diz. A preparação deficiente para enfrentar o problema também é apontada como um motivo da dificuldade em se lidar com a indisciplina dos alunos. “É preciso investir muito na formação dos educadores, não só nos conteúdos, mas também nas relações do professor com o aluno, a família, a escola e com os diretores”, diz Peres. Para Garcia, os professores não têm uma formação cultural e acadêmica apropriada para enfrentar a bagunça em sala de aula.
Outro aspecto importante para conter as bagunças em sala, destacado pelos professores, diz respeito à melhora na preparação das aulas. A professora de Geografia do ensino médio no Colégio Dom Bosco, Cibele Cruz, acredita ser fundamental que o professor domine o conteúdo e preocupe-se em transmitir a matéria de maneira interessante. Ela também destaca que o papel de observação da turma é importante para os professores. “Se eu tenho um aluno hiperativo, eu devo ter consciência de que preciso elaborar outras atividades para ele, antes que esta característica individual prejudique a ordem na sala”, explica. A opinião é compartilhada pela professora da rede municipal de ensino em Curitiba e autora do livro Limites e Indisciplina na Educação Infantil, da Editora Alínea, Maritza Rolim Vergès. “Fora dos muros da escola existem muito mais coisas para um jovem ou criança fazer, por isso a escola não pode ser chata”, comenta ela, assinalando que a falta de educação por parte dos alunos também é causada pela desestruturação das famílias. Além do despreparo dos professores, a distância dos pais em relação à vida escolar dos filhos – ou mesmo a participação negativa sobre eles – colabora diretamente para o surgimento da indisciplina. Os professores indicam que as bagunças costumam ser mais frequentes entre estudantes de 6.ª a 8.ª série. Isso porque, segundo Joe Garcia, a relação dos jovens com a autoridade geralmente muda entre os 11 e 14 anos de idade, fase na qual eles tentam romper com o mundo dos adultos para buscar, dentro do próprio grupo de colegas, uma liderança. Para a diretora pedagógica do Colégio Acesso Boqueirão, Adriana Franco, pais que não impõem limites ou mesmo aqueles que são severos demais podem influenciar negativamente os adolescentes nesta faixa etária, por ser esse um momento de auto afirmação. O coordenador disciplinar do Colégio Bom Jesus, Robson Fernando Oldenburg, lembra que, atualmente, existem nas escolas formas de bagunça que não existiam no passado. “Eles têm jogos portáteis, celulares, mp3, mp4, enfim, uma infinidade de aparelhos eletrônicos que atrapalham a aula tanto quanto a conversa paralela e o bilhetinho”, conta. Segundo Garcia, a tecnologia nesses casos cria uma bagunça codificada e, muitas vezes, silenciosa. Por isso os professores e educadores também precisam estar por dentro dessas novidades para conseguir controlar a bagunça. Mesmo assim, bolinhas de papel, borrachas no ventilador e aviõezinhos voando pela sala são situações que ocorrem ainda hoje. A pedagoga da Escola Estadual Ângelo Trevisan, Maria Gorete Stival, acredita que alunos, professores e pais devem estar cientes e comunicar sempre que possível quais são os direitos e deveres dos alunos dentro do colégio. “Em alguns casos vale perder aqueles cinco minutos iniciais da aula para organizar a sala e lembrar que certas situações não são toleradas no ambiente escolar”, destaca.
Fonte: Gazeta do Povo, 21/04/2010 - Curitiba PR
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