sexta-feira, 30 de abril de 2010

Onde a professora estava que não viu isso?

A palavra “isso” citada no título refere-se aos tombos, arranhões, pisadas na água acumulada da chuva, trocas de lápis na sala de aula e coisas do gênero. É muito comum, em início de ano letivo, os pais procurarem as escolas para “tirar satisfação” sobre o que anda acontecendo com seu filho no ambiente escolar. Geralmente, são pais e mães que não participaram da reunião entre pais e professores, momento ímpar para o esclarecimento do trabalho pedagógico e da dinâmica da instituição. Dessa forma, formam-se dois mundos separados, falando diferentes línguas: a escola, que prioriza a autonomia e o desenvolvimento das habilidades; e a família, que superprotege e não tem clareza sobre as funções escolares.
Início de ano letivo gera muita ansiedade, principalmente nas famílias que pela primeira vez matriculam suas crianças na escola. Mas o mais preocupante é quando esse comportamento continua a manifestar-se no decorrer do ano. Para essas situações, segurança e domínio de área são as estratégias adequadas para o professor realizar seu trabalho.
Depois das explicações pedagógicas devidamente fornecidas, cabe limitar áreas: escola trabalha o conhecimento científico e formal; família educa, transmite a base dos valores familiares e sociais por hora esquecidos. “Por favor, obrigado e com licença” se aprende em casa. Portanto, resgatar a gravata do professor – metafóricamente falando – é urgente. Caso contrário, podemos rasgar nossos diplomas e, em vez de passar anos estudando e comprando livros, podemos investir em um negócio próprio.
Acreditar que a criança é exclusiva é uma atitude não favorável ao seu desenvolvimento e nem muito inteligente. A vida nos mostra, diariamente, que ser flexível frente aos problemas, adaptável às situações adversas, autônomo e comunicativo são aspectos que apresentam o surgimento de muitas possibilidades de crescimento. Não dá para aprender envolto na penumbra do medo, da cobrança e da superproteção. Pior ainda é permitir que a criança veja a autoridade dos educadores ser massificada por pais e mães que não compreendem, apenas julgam. Colaborar é diferente de fiscalizar. Cuidar é diferente de superproteger e sufocar a criança. Interagir com a escola é diferente de criticar o trabalho, como por exemplo: “Onde estava a professora quando minha filha caiu?” ou “Ninguém viu aquele grandão batendo no meu pequeno?”.
É uma pena que arranhões e tombos, extremamente normais e sadios na infância, sejam a preocupação principal de muitas famílias, quando, na verdade, o foco deveria ser outro. Que alimentos estamos oferecendo para nossas crianças: chips, açúcares, e macarrão instantâneo? Será que o conteúdo cultural que meu filho está tendo acesso é sadio (ou são filmes de terror, novelas e Big Brothers, que, em vez de contribuir para a formação do caráter, estimulam a agressividade, a frustração e a ansiedade)? Estes mesmos filhos ganham brinquedos educativos, jogos que estimulam o raciocínio e a vida em grupo, ou ganham video games que são instrumentos de estímulo à competição? E, ainda, meu filho sabe arrumar a cama e limpar o tênis? Enquanto pai, mãe ou responsável, conheço os amigos dos meus filhos? Que polêmica é essa de “pulseirinha do sexo”? Neste exato momento, sei o que meu filho está fazendo? Estas são algumas das questões com as quais a família deve realmente se preocupar, pois nem um professor, em sã consciência, vai permitir que o aluno se machuque, mas acidentes acontecem.
De repente, quem precisava ter conhecimento “deste lado” das escolas nem leia esse texto. Mas convoco você, caro leitor, a divulgar estas verdadeiras preocupações que toda família deve ter com seus filhos, e não se ele caiu enquanto corria. Quanto aos professores, subir no pedestal, tirar o diploma da gaveta, argumentar e defender suas práticas de ensino é urgente. Caso contrário, deixaremos de ensinar para atender de forma personalizada.

ELIZETE FELIPONI


Fonte: Artigo retirado do Jornal A Notícia

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