quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Numa foto não dá pra guardar o que você é pra mim

Desde a última vez em que se despediram, era para ele muito difícil esquecer aquele olhar carregado de lágrimas e soluços que aos poucos ela ia escondendo afim de que não ficasse registrada tanta dor em seus corações. Por mais que estivesse errado e que todas as circunstâncias fossem evidentes em mostrar o quanto a tinha feito sofrer, o seu orgulho ainda era maior do que tudo o que estava em jogo naquele momento.
Saiu como se nada tivesse acontecido e embora soubesse das conseqüências drásticas que estava prestes a enfrentar (entre elas a solidão), desta vez tudo tinha realmente chegado ao fim e não existia outra forma de reverter qualquer tentativa de uma reaproximação.
Ao chegar em casa teve como impulso rasgar todas as cartas que ela havia lhe enviado e que constantemente foram as únicas formas de amenizar a saudade advinda de uma distância tão fria e insensata que sem saber foi a principal responsável pela consecução de tal separação. À medida em aqueles papéis se desfaziam em pedacinhos, experimentou um mistura de sentimentos que até então não conseguia identificar se estava satisfeito ou se mergulhando em um poço de amarguras. Era como se cada momento que foi vivenciado e deliciado com ela estivesse agora também sendo “dilacerado” em sua memória, teve a impressão de que todos aqueles beijos, abraços, carícias e sussurros nunca tenham um dia acontecido e que todas as palavras ditas em um momento sublime de noites de amor aos poucos fossem silenciadas sem a menor perspectiva de novamente se tornarem reais.
Como se não tivesse programado e mais que de repente para arrebentar a dor que sentia, a música que ao fundo tocava era justamente a que ele mais apreciava quando estava ao lado dela. Não conteve as lágrimas e era como se cada palavra daquela canção torturasse ainda mais seus sentimentos, mas estava certo que precisava naquele momento passar por todo aquele tormento para que ao final pudesse estar certo de tudo o que experimentava e se realmente era verdadeiro todo aquele sentimentalismo.
Em meio a toda aquela enxurrada de revelações, se deparou com um envelope ainda lacrado e que pelas as marcas do tempo já estavam a um bom tempo perdido naquela gaveta. De forma impulsiva e sem saber o que iria encontrar em seu interior, se pôs a abrir, dessa vez de uma forma mais terna, pois não sabia ao certo o que lhe aguardava e por isso foi até cauteloso em seus julgamentos sempre apressados.
Foi tomado de um susto tamanho que não pôde controlar as palpitações aceleradas do seu coração, estava diante de uma fotografia dela que ele por mais que fizesse um esforço tamanho não podia reconhecê-la. Afinal, quem era aquela mulher que agora lhe saltava aos olhos de uma forma tão esplendorosa? O que ele estava deixando de lado em não querer lutar por aquela figura? E quem era ela realmente?
Deixou que a sensação da perda fosse agora a sua melhor companhia e notou que em seus pensamentos pairavam a certeza de que a derrota no “jogo” do amor era a sua principal constatação. 
Foi fácil se abater por uma fotografia que não passava de uma representação arquitetada de artifícios tecnológicos e estéticos afim de querer simplesmente lhe impressionar, mas sabia que na realidade ela era bem mais do que aquela virtualidade.
Decidiu guardar aquele papel impresso com o rosto daquela que um dia foi a sua mais sincera expressão de amor, más, a certeza de que não poderia mais acessar tal conteúdo lhe trouxe por alguns segundos uma sensação de tranqüilidade entrecruzada com o receio de que não seria capaz de suportar tamanho peso em seu ser. Fez então do momento sombrio o antídoto para aliviar sua dor, pôs se então a viver carregando consigo aquela fotografia como sendo a última imagem em que poderia transportar, mesmo sabendo que não era possível guardar tudo o que ela representava para ele em um simples pedaço de papel.

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