segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

(Des) Contentamento

Viver não é para muitos, mas está vivo é uma aptidão de todos aqueles que passam a seguir caminhos diferentes com histórias parecidas. Algumas coisas são prazerosas e a busca por elas torna uma incessante necessidade. Em troca de instantes fugazes as pessoas perdem a consciência do que no fundo do seu íntimo é mais importante.
A falta de contentamento que está estampada no semblante das pessoas demonstra a carência com que cada uma não foi preparada para a dor. Ninguém admite que a vida possa de uma vez por outra dar uma reviravolta e mostrar seu lado obscuro com a finalidade de que aqueles que estão nesse estado de espírito possam ter a oportunidade (ou a infelicidade) de sofrer sem ao menos saber o porque está assim. E vem o descontentamento com tudo o que lhe cerca, de uma hora para outra até mesmo aquelas pequenas coisas que eram prazerosas e significativas passam a ser inócuas e sem relações ou conexões com o próprio existir. Pessoas que representam muito para você chegam a ter nenhuma importância e são como estrangeiros. As idéias que moviam a suas ações tornam-se sem reflexos e nem atingem mais o campo da imaginação.
Pensar que um dia fomos o que hoje queremos ser é a tentativa mais descabida de não aceitar as transformações como um fluir eterno. A volta ao passado pode até mesmo constituir-se em um lenitivo, mas não é o bastante para enfrentar o amanhã pois não temos a certeza da repetição constante dos fatos e a única verdade que temos é a aposta no porvir. Tudo não passa de expectativas e o acontecer nem sempre sai como queremos.
Tento me acertar comigo mesmo afim de que conflitos íntimos não exteriorizem minhas palavras e minhas ações. Assim estou convicto de que através de um esforço planejado, posso tornar-me naquilo que pretendo ser. Contente ou não, isso não importa, o que vale é viver as potencialidades que se apresentam a cada instante e assim o tempo vai sucessivamente tornando-se presente, novas existências vão aparecendo e uma vida vai sendo tecida através de histórias ímpares. Nem sei explicar ao certo como tudo isso ocorre, fogem as palavras e os sentidos são impotentes e é por isso que nesses instantes o experienciar já é o bastante e contempla todas as formas de emoção.
Portanto, é nesse amontoado de palavras, idéias e acontecimentos que me encontro. Tentando correr contra e a favor do tempo, em busca do que passou e não consegui conquistar e conservando o que já tenho, mas acima tudo a procura do que pode ser meu. Viver não é a reconstrução do que já passou e sim a construção refletida do que ainda virá em meio ao que te restou.

Ancarlos Araujo. 06/Jan/2008

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