
Com toda a paciência que lhe é peculiar, o saber então passou a explicar ao tempo tudo o que aconteceu desde que o homem teve a brilhante idéia de controlar sua vida através dos minutos, das horas, dos dias, das semanas, dos meses, dos anos etc. Anteriormente a esse fato todos viviam despreocupados e parecia que a vida era uma eternidade e que tudo era infinito. As pessoas não tinham pressa, o dia e a noite eram apenas fenômenos que oportunizavam a visita do sol e da lua, as chuvas ou as geadas eram aspectos comuns que se repetiam de quando em quando. Crianças, jovens, adultos e idosos não precisavam se diferenciar por terem mais ou menos idade. Enfim, a igualdade e a tranqüilidade eram habituais no cotidiano daquele povo.
Eis que um dia, o homem utilizando o seu poder super dotado de racionalidade e inconformado com o marasmo, passa então a dividir essa sucessão de momentos e cria o tempo. A partir daí a vida toma uma dimensão de pressa e novos inventos como o relógio e o calendário são agora companheiros inseparáveis que determinaram o estilo de vida de cada ser humano.

Aos poucos o tempo começou a perceber que todas aquelas explicações tinham sentido e que estava sendo vítima de uma pressa criada por ele mesmo. Pensou em como seria mais agradável fazer as coisas com mais cautela e acima de tudo aproveitar todos os instantes intensamente sem se preocupar com o que virá e desprendido do que já passou.
Ancarlos Araujo (In: Cartas Para Ninguém. 25/Abr/08)
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