sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Os Meus Livros

Desde que comecei minha relação com os livros percebi que eles tinham muito que me ensinar e que eu tinha mais ainda o que aprender com eles, bastava que eu me dispusesse a ouvi-los com atenção e dedicação e que passasse a tratá-los com o devido respeito. Confesso que no início eu não sabia ao certo o que iria me deparar e o que toda aquela vontade de descobrir o que estava guardado dentro deles iria me trazer, mas como todo navegante de primeira viagem decidi adentrar com a sede do saber e a inquietação de um desbravador. Aos poucos, algo novo que até então não sentia vinha tomando conta da minha mente e as idéias fervilhavam como que querendo aflorar e se fazerem presentes o mais depressa possível.
Os devaneios intelectuais tornaram-se constantes e novas palavras passaram a fazer parte do meu reduzido vocabulário. Era inevitável que um vício estava prestes a me tomar conta e que ao contrário daqueles que reduz o ser a migalhas, este anunciava um engrandecimento espiritual que viria acompanhado de um prazer, que como todos eles para ser deleitado deve vir acompanhado de uma dose de sacrifício.
Passei então a juntá-los, ao passo que ia devorando-os um a um e sempre tentando estabelecer um diálogo que na maioria das vezes se encerrava em um monólogo que eu não conseguia entender. Eu questionava-os tentando obter respostas para as minhas dúvidas, mas eles permaneciam silenciosos, e tudo aquilo me deixava atormentado fazendo com que eu buscasse cada vez mais leituras que dessem um acalanto. De tanto buscar solução e sem saber ao certo como encontrar, percebi que podia juntar todos os livros que já li e formar uma resposta para tudo o que eu queria.
Os meus livros são tudo aquilo que em uma determinada fase da minha vida passaram a marcar as minhas escolhas. Todos eles, juntando um por um vão formando palavras que se exteriorizam em sentimentos. Tenho um grande afeto por eles, pois sinto que em cada um é como se fosse uma parte de mim, embora não tenha escrito-os. Mas mesmo assim peço licença aos autores para tomar tal liberdade, afinal todo escritor tem a consciência de que quando coloca sua obra à disposição do público ela não lhe pertence mais. Por isso, ao manuseá-los é como se eu estivesse voltando no tempo e vivenciando cada circunstância que foi preciso para que eles chegassem até mim, cada sensação que me toma quando ao lê-los, alguns concordo plenamente e em outros sou contra do início ao fim.
Alguns me seduzem ao ponto de devorá-los mais de uma vez. É como experimentar a sensação de algo prazeroso em que se quer repetir e acabamos vivenciando de outra forma, mais intensa ainda. É como percorrer um caminho já conhecido, só que desta vez com a vontade de se deparar com novas formas de caminhar. Por outro lado existem alguns que em apenas uma leitura já me sinto contemplado com o que têm a me trazer. São poucos os que tive que abandonar no decorrer da leitura, pois procuro mesmo com sacrifício, ir até o final e tentar entender o que eles têm a me dizer.
Alguns ainda não li, mas estou certo de que o momento adequado virá para que, ao iniciar eles possam me dar algo que preciso naquele momento. Sei que eles estão a me esperar e fico tranqüilo por isso, afinal, não se pode manter uma relação com um livro de modo apressado e desinteressado. Tudo deve partir de uma vontade constante que faz com que cada instante gasto com ele se traduza em momentos ínfimos. O silêncio e a solidão são dois componentes indispensáveis em uma boa leitura e se temos um bom livro então tudo facilita para que o resto flua com a maior harmonia.
Sempre que finalizo a leitura de um livro agradeço a DEUS por ter colocado mais um degrau no meu conhecimento, é como se naquele momento eu tivesse recebido do alto os pré-requisitos necessários para um tipo de saber mais complexo que estou prestes a iniciar. Por isso, comparo meus livros com amigos que em determinados instantes percorrem comigo um trajeto sempre a me aconselhar, dividindo os bons e maus momentos, mas que em certo ponto nos despedimos para que cada um tome um rumo diferente e com uma nova missão a ser cumprida.
E assim guardo-os na estante, cuidando-os para que eles possam trazer aos outros a satisfação que tive, ao perceber que em um dia pude aprender algo de novo com todos eles e que posso ensinar aos outros tudo o que absorvi com cada um. Estão como sementes sempre prontas para serem plantadas e daí nascer árvores frondosas com frutos que servirão para alimentar a fome de saber de tantos que precisam ser saciados.

Ancarlos Araujo ( In: Cartas Para Ninguém. 13/Abr/08)

Um comentário:

Bruno Albuquerque disse...

ei ancarlos, o meu blog é esse: www.blogdosgarotosantenados.blogspot.com